10
de fevereiro de 2012
Relato
de impressões [1º]: As corvas, reflexões
que não se calam [nunca].
O que se falar, ou se escrever ao
argumentar sobre a construção do Espetáculo “As Corvas”? O que se esperar,
quais as resultantes que surgirão? O que será esperado de você enquanto ator?
Como compreender a proposta da companhia e veiculá-la a constituição do
espetáculo? Quais são as vontades em relação à construção da personagem? Os quereres... Ah! Bruta flor do querer [...]
A construção imagética, sonora? Como aprimorarmos enquanto pessoas? Como lidar,
ou seja, assimilar os conceitos e passá-los a estrutura da consciência?
Como?
O que? Qual [...] e assim estabelecer uma inter-relação entre todas as partes
supracitadas e as não percebidas, a fim de construir um todo harmônico.
Neste contexto é desta forma que
inicio esta reflexão sobre o espetáculo As
corvas, com muitas indagações [que possuo a convicção que durante o
processo algumas serão respondidas, outras serão esquecidas, muitas ficarão sem
respostas, e outras nem mesmo serão percebidas] e que não me importo em
necessariamente encontrar uma resolução, pois quando argumentamos de arte
estamos a adentrar um universo subjetivo [volátil] da mais profunda contradição.
Este espetáculo lida com aspectos
salientes em nossa sociedade goiana e também mundial, como: a relação familiar;
a pedofilia; a homossexualidade; a mudança existencial, social, política,
filosófica e religiosa dos indivíduos, realçando a mobilidade do metamorfosear
das pessoas de acordo com suas necessidades singulares ou muitas das vezes
exigidas pela esfera social; os ritos religiosos; os estereótipos; o jogo,
compreendendo como uma dinâmica [vir a ser] estabelecida pelos indivíduos a
favor de ganhos; a fragilidade, debilidade biológica, como vivencial
manifestada nos personagens, dentre tantos outros subconjuntos que se mostram
ao decorrer do mesmo.
Que
são [aspectos] abordados muitas das vezes de forma cômica pela escritora
Marília Ribeiro, entretanto seriamente manuseados, o não texto que está sempre presente na forma em que a autora
resolveu abordar sua obra; as cenas descritas de maneira não usuais, sendo uma
quebra da temporalidade comum, acabam por confundir o entendimento do leitor;
ainda acrescenta-se a ausência de características [particulares e substanciais]
concernentes aos personagens, manifestadas na linguagem das mesmas, que traz
uma linearidade continua [pleonasmo] as suas falas [ e me questiono a autora
possui esta percepção? Sendo que a minha impressão seja que não]; mas essa
especificidade ao mesmo instante trouxe uma psicológica interessante a
concepção totalitária deste espetáculo, uma vez que os personagens estão
encaixados como bonecas russas [se não me engano a nacionalidade], onde dentro
de uma boneca tem outra e assim sucessivamente, traços de um mesmo indivíduo,
várias personalidades em um mesmo recipiente [indivíduo].
O
ator se distorce ao momento que se depara com estas possibilidades [...] e
construir a personagem se torna tarefa mais árdua, entendendo este personagem
como soma constitutiva de partes figurativas [geométricas, concretas] e não [em
algumas situações o entre pontyniano].
E somar esta variável a proposta da companhia que é Expressionista, torna ainda
um pouco mais complexo até para aqueles que gostam, pois aqui temos o quesito
desconstrução que se manifesta, desta forma para atingir o ápice da criação
deste personagem se torna um processo mais solitário do que parece.
Assim
percebe-se o tão complexa é a proposta deste espetáculo, devendo ser manejada de
forma criteriosa, para que não se perca em uma dimensão de sentidos, imagens,
conceitos, técnicas [...] que não se encaixem, que fiquem superficiais e pouco
elaborados.
E
isso é [...] sem nos lembrarmos de aspectos como o cenário, a maquilagem,
figurino, sonoplastia, projeções [...] estou inicialmente argumentando somente
das prováveis ideologias do espetáculo e da construção das personagens pelos
atores, entretanto isto é assunto para outras reflexões.
*E
mesmo quando não quero pensar,
a
inércia parece um sonho distante para mim.
A
reflexão adentra como a escuridão em que os corvos habitam,
Muito
real, igualmente a ausência de luz existente em partes de minha alma. (12-02-2012)
Dedico
esta poesia [de José Arnaldo Pereira, sem nome] a todos integrantes da Cia. Novo Ato que tantos momentos me
proporcionaram, sorrisos e que [até o momento] me inspiram.
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